sábado, 15 de agosto de 2009

O almoço do trolha




Os dentes amarelos mascavam com a avidez os restos da solene sande de fígado encruado e cebolado. Por trás dele colocado sobre a chapa que guardava o andaime um poster da Virgem com o Menino Jesus duma igreja evangélica. Rapidamente, mas com gosto engoliu os restos da sande e agarrou um donut recheado, enquanto refrescava a garganta com uma cerveja de lata fresca e transpirada retirada da geladeira de campismo como um recém-nascido. Ao fundo da rua no prolongamento da sua perna estirada duas ou três árvores pronunciavam-se do alto dum pomar como se estivessem a ver o trolha com folhas e frutos. Ajeitou os tomates da segunda sande de forma a preencherem a carcaça por dentro e trincou-a. Os molares esmagavam e ele engolia e estava feliz entre o sol abrasivo e o fresco da lata. As suas entranhas começavam a receber o abraço alimentar. Soltou um peido que assustou um gato de boa audição. O cheiro às lulas do jantar perdeu-se entre os verdes do pomar. O gato trepou mais alto para mais longe. O trolha olhou para o telemóvel e introduziu a palavra tetas e ficou a olhar para moças de grande peitaça enquanto comia uma barra de cereais com chocolate. Mais tarde ia ter com a namorada e estava a preparar os olhos e a pressentir o pau. Fumou um cigarro lento depois de fechar as mamalhudas de novo na caixinha.
Olhou para as horas e viu os colegas de argamassa a recolherem a comida e ele próprio entre um arroto arrumou as vitualhas e acabou a cerveja num trago. A luz fechou-se sobre eles e já todos no fresco do betão começaram a trabalhar.

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